Relatos
Abrimos este espaço para conversar sobre racismo. Aqui é um local seguro para debater o assunto, falar sobre preconceito racial e compartilhar vivências que possibilitem refletir as dores de quem sofre discriminação, como também fortalecer a luta pela igualdade étnico racial. O relato a seguir foi coletado em Chapada de Natividade - TO.
Ana Caroline / Idade: 20 anos
Meu celular
queimou, deixou de funcionar, me abandonou. Então, precisei ir ao camelô
comprar outro. Já na banca, eu fiquei esperando o senhor me atender e ele não
atendia. “Moço, eu preciso de uma capinha”, falava e ele não me respondia. Repetia...
até que ele falou: “eu não vou te atender porque você é uma negra, uma negra
feia”. Aí eu pensei: “meu Deus, será se o erro está em mim?!”. Me senti
ofendida e fui embora. Só que eu fiquei com isso na cabeça. [Neste
momento, entrevistadora pergunta se ela pensou em procurar alguma delegacia]. Procurei uma delegacia, mas quando fui
procurar, ele não estava no lugar. Disseram que ele tinha ido embora. [Mais
uma vez, entrevistadora pergunta se ela tinha conhecimento dos seus direitos]. Quando eu cheguei em casa, comentei
com minha mãe e ela disse que poderia ser mal humoração (sic), mas a minha outra tia, que é enfermeira, disse que
aquilo era caso de polícia. Mas quando pensamos em procurar, ele não estava
mais lá. [Entrevistadora pergunta em que ano aconteceu o episódio]. Isso
faz uns quatro anos. Eu era menor de idade. [Você achava que o erro estava em
você?] Eu pensei que algo estava errado em mim. [Você lembra se o vendedor era
uma pessoa branca?] Era uma pessoa branca, do cabelo preto e dos olhos
claros. [Hoje, caso acontecesse alguma situação parecida, como você reagiria?] Eu
procuraria os meios, porque, hoje, a gente é acolhido de todas as formas. As
pessoas deveriam tratar a gente tudo igual (sic). [Você sabe quais são os primeiros passos para reparar as atitudes
racistas?] Não sei. Acabei não
indo atrás de saber, mas fiquei muito ofendida. [Depois deste episódio, você
ficou receosa de entrar em outros estabelecimentos comerciais?] Sim. Na
semana passada, isso aconteceu com minha mãe. Ela estava na frente de uma loja,
em Palmas, e o segurança pediu, sem nenhum motivo, para ela se retirar, pois
estava atrapalhando. Elas também não procuraram a polícia. [Você se recorda de alguma
história que, embora, naquele momento, não tenha classificado como racismo,
hoje, é possível classificar?] Eu não me recordo, mas, ultimamente,
acontece muito, todos os dias. [Quando você tomou consciência de que não se
trata de piada, mas de ofensa racista?] Depois do que aconteceu comigo
em Palmas. [No seu meio, alguém já relatou experiências de racismo? Elas têm
consciência do que é uma atitude racista?]
Aqui na Chapada, a maioria não tem consciência, mas isso tá
melhorando, por causa das atividades e dos programas que estão acontecendo. As
pessoas estão ficando mais espertas em relação ao racismo. As pessoas sofrem,
mas não falam. [Entrevistadoras indicam a melhor forma de denunciar o racismo]. A
gente não deve se calar. Naquele momento, eu senti que não era gente.
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