Projeto Igualdade Étnico-Racial e Educação da UFT

Mural Antirracismo - Depoimento

 

Entrevistada: Ana Caroline | Idade:  20 anos

Eu perdi meu pai com  16 anos. Mataram ele. Mataram ele na rua. Depois disso, uns dois meses depois de enterrar meu pai, a gente foi para Palmas . Minha tia quis se formar lá. Meu celular queimou, deixou de funcionar, me abandonou. Então, precisei ir ao camelô comprar outro. Já na banca, eu fiquei esperando o senhor me atender e ele não atendia. “Moço, eu preciso de uma capinha”, falava e ele não me respondia. Repetia... até que ele falou: “eu não vou te atender porque você é uma negra, uma negra feia”. Aí eu pensei: “meu Deus, será se o erro está em mim?!”. Me senti ofendida e fui embora. Só que eu fiquei com isso na cabeça. [Neste momento, entrevistadora pergunta se ela pensou em procurar alguma delegacia]. Procurei uma delegacia, mas quando fui procurar, ele não estava no lugar. Disseram que ele tinha ido embora. [Mais uma vez, entrevistadora pergunta se ela tinha conhecimento dos seus direitos]. Quando eu cheguei em casa, comentei com minha mãe e ela disse que poderia ser mal-humor, mas a minha outra tia, que é enfermeira, disse que aquilo era caso de polícia. Mas quando pensamos em procurar, ele não estava mais lá. [Entrevistadora pergunta em que ano aconteceu o episódio]. Isso faz uns quatro anos. Eu era menor de idade. [Você achava que o erro estava em você?] Eu pensei que algo estava errado em mim. [Você lembra se o vendedor era uma pessoa branca?] Era uma pessoa branca, do cabelo preto e dos olhos claros. [Hoje, caso acontecesse alguma situação parecida, como você reagiria?] Eu procuraria os meios, porque, hoje, a gente é acolhido de todas as formas. As pessoas deveriam tratar a gente tudo igual (sic). [Você sabe quais são os primeiros passos para reparar as atitudes racistas?] Não sei. Acabei não indo atrás de saber, mas fiquei muito ofendida. [Depois deste episódio, você ficou receosa de entrar em outros estabelecimentos comerciais?] Sim. Na semana passada, isso aconteceu com minha mãe. Ela estava na frente de uma loja, em Palmas, e o segurança pediu, sem nenhum motivo, para ela se retirar, pois estava atrapalhando. Elas também não procuraram a polícia. [Você se recorda de alguma história que, embora, naquele momento, não tenha classificado como racismo, hoje, é possível classificar?] Eu não me recordo, mas, ultimamente, acontece muito, todos os dias. [Quando você tomou consciência de que não se trata de piada, mas de ofensa racista?] Depois do que aconteceu comigo em Palmas. [No seu meio, alguém já relatou experiências de racismo? Elas têm consciência do que é uma atitude racista?]  Aqui na Chapada, a maioria não tem consciência, mas isso tá melhorando, por causa das atividades e dos programas que estão acontecendo. As pessoas estão ficando mais espertas em relação ao racismo. As pessoas sofrem, mas não falam. [Entrevistadoras indicam a melhor forma de denunciar o racismo]. A gente não deve se calar. Naquele momento, eu senti que não era gente.


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